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sábado, 28 de abril de 2012

A missão vai ser cumprida: vou falar com a Dilma!

Ontem, dia 26 de abril, saímos do Pólo Universitário às 10h em direção ao Porto do Açu - São João da Barra. Éramos cerca de 40 estudantes divididos em dois carros e um ônibus. Intencionávamos chamar a atenção da presidenta Dilma Rousseff para nossa causa.  A presidenta estaria presente na inauguração do grande empreendimento do grupo EBX. 

Havíamos planejado uma manifestação pacífica e aguardávamos a recepção do assessor da Presidência da República, Ubirajara Augusto. Este soube, no dia anterior, de nossa ida e se propôs a nos encontrar pela manhã no Centro de São João da Barra.
              
Nós do Centro Acadêmico, que estávamos em um dos carros, não conseguimos chegar a tempo da reunião com o assessor e fomos direto ao local do evento para realizar o credenciamento do CA para participação na cerimônia. Enquanto isso, os outros estudantes que estavam no ônibus chegaram à entrada para visitantes do evento e foram abordados por seguranças que impediram que eles ficassem ali e pediram para que se retirassem com uma escolta policial (PM). Um outro carro com estudantes estava parado aguardando o encontro com os demais em um acostamento próximo ao evento e foram abordados por quatro viaturas da PM de forma violenta, sendo revistados sob a mira de armas de fogo. O ônibus e o carro com estudantes, por segurança, deixaram as proximidades do Superporto do Açu e se dirigiram até o vilarejo de Barcelos.
       
Após passarem pela guarita, os representantes do CA encontraram o vereador Danilo Funke e seus assessores. Seguimos então em um ônibus reservado à imprensa até o local de credenciamento. O vereador entrou em contato com o assessor da Presidência e promoveu o encontro do mesmo conosco. Ubirajara nos recebeu com desesperada surpresa por estarmos ali. Foi quando nos demos conta de que havíamos chegado longe o bastante. Aproveitamos o encontro para expor nossos problemas e a necessidade de intervenção de instâncias superiores à UFRJ para que nossas demandas sejam atendidas. Conversamos por cerca de vinte minutos e entregamos os seguintes documentos: dossiê sobre a Medicina UFRJ-Macaé; carta manifesto; e carta à Exma. Sra. Presidenta do Brasil Dilma Rousseff (abaixo). O assessor protocolou o recebimento desta última e se comprometeu a encaminhar os documentos ao gabinete da Presidência. Pegamos os contatos telefônico e de e-mail de Ubirajara para cobrarmos futuras respostas. Ao perceber que detínhamos várias cópias da carta manifesto, o mesmo se apavorou e pediu incessantemente que não distribuíssemos a mesma no local. Nos comprometemos a  não fazê-lo.
           
A representante do CA que havia efetuado o pré-cadastramento como Imprensa para o Blog do CA foi impedida de entrar na cerimônia, pois alegaram que a mesma não possuía registro profissional de Comunicação. Permanecemos no local, a Fazenda do Empresário Eike Batista, por cerca de vinte minutos com o vereador Danilo e seus assessores, conversando e tentando contatos, enquanto ouvíamos vários seguranças comentando preocupados sobre um ônibus cheio de estudantes de Medicina. Chegavam os trabalhadores da empresa OGX de capacetes; havia duas mudas de árvores com pás esperando ser plantadas pela presidenta e o governador do Estado do Rio de Janeiro; o filho do Eike Batista, Thor Batista, falando ao telefone; a prefeita de São João da Barra; e alguns deputados.
             
Quando se aproximava a hora de chegada da Presidenta e a comitiva da imprensa foi recepcioná-la, o assessor Ubirajara foi nos informar que nossa presença estava gerando grande incômodo e que deveríamos nos retirar rapidamente. Atordoado, Ubirajara disse; “Não sei nem como vocês vieram parar aqui”. Um segurança conduziu, então, os seis "elementos" até uma Van da organização do evento repleta de seguranças. Fomos deixados próximo ao estacionamento. De lá, partimos de carona com o vereador e seus assessores até Barcelos ao encontro de nossos colegas. No trajeto percebemos várias viaturas da Guarda Municipal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária e Polícia Militar.
         
Encontramos o restante dos estudantes e nos reunimos à beira da estrada para fazer o relato do ocorrido. Enquanto conversávamos, éramos observados por viaturas policiais e moradores locais. Cogitamos retornar com nossos cartazes à saída do evento para tornar visível à imprensa presente o nosso movimento. Contudo, a sensação de opressão experimentada por todos naquele dia fez com que decidíssemos retornar a Macaé logo.


O esforço não foi em vão. Numa tentativa desesperada de estudantes em greve por levar seus problemas a conhecimento de instâncias superiores, conseguimos ao menos encaminhar nossa demanda ao gabinete da Presidência. Continuamos na luta!

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Macaé, 26 de abril de 2012

Exma. Sra. Presidenta do Brasil Dilma Rousseff, 

                O movimento dos estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ-Campus Macaé, como é de conhecimento público, encontra-se em greve geral desde o dia 2 de abril deste ano. A greve foi desencadeada por uma série de fragilidades vivenciadas durante os três anos de formação das seis turmas já existentes. O quadro atual é insustentável, pois não nos garante uma formação médica de qualidade, conforme detalhamos em nossa carta manifesto (anexo).
                Sabemos que o Brasil enfrenta sérios desafios quanto à redução da disparidade na oferta de serviços de saúde, principalmente na garantia ao acesso com qualidade em todo o território nacional. Acreditamos que esta questão demanda várias medidas, como a valorização do atendimento primário, a fixação do profissional de saúde no interior e a formação de médicos qualificados; sendo que nossa reivindicação reforça este último item.
                O Estado do Rio de Janeiro atualmente conta com quatro Universidades Públicas que oferecem cursos de Medicina. Entretanto, estes estão concentrados na região metropolitana do Estado. Em 2007, através do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), foi aprovado o projeto de criação de mais uma turma na cidade de Macaé, pela Faculdade de Medicina da UFRJ, com o oferecimento de 60 vagas por ano, sendo a primeira turma vigente desde o segundo semestre do ano de 2009.
                A criação da nova turma em Macaé detém características inovadoras em seu projeto pedagógico, estando de acordo com as novas diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação. Todavia, desde que o curso se iniciou, os alunos se depararam com diversos problemas de infraestrutura física e humana: prédios inacabados, ausências de laboratórios e um número insuficiente de professores (atualmente o curso conta com apenas 12 docentes médicos), além de não possuir um hospital que atenda às necessidades para a prática do ensino exigidas pelo MEC. Apesar de parecerem problemas corriqueiros em um curso em implantação, os mesmos persistem e se agravaram com o avançar dos semestres, o que faz com que as turmas apresentem graves defasagens acadêmicas, comprometendo sua formação.
                Há um mês os estudantes começaram a se mobilizar para reivindicar junto à Reitoria da UFRJ respostas às precariedades de ensino existentes. No dia 2 de abril, o coordenador e a vice-coordenadora do curso pediram exoneração dos seus cargos, alegando que lhes faltavam ferramentas que permitissem dar continuidade à condução do curso. Este fato agravou ainda mais a crise, e foi o estopim para que os estudantes entrassem em greve por tempo indeterminado, até que soluções que atendam as demandas levantadas sejam implementadas. Desde então, conseguiu-se estabelecer uma agenda de reuniões com a administração central da Universidade. A mesma se comprometeu a debruçar-se sobre os problemas em busca de soluções a curto prazo. Porém, as negociações tem se estendido em uma rotina de reuniões exaustivas e ineficazes, cujo prazo final estabelecido para uma posição oficial será o dia 3 de maio, data em que os estudantes completam um mês e um dia paralisados.
                Por fim, entendemos que a iniciativa da UFRJ em implantar um projeto de interiorização demonstra que o REUNI foi um importante passo para aumentar o gargalo de acesso ao ensino superior. Contudo, este esforço não se mostrou suficiente para garantir o mínimo de operacionalidade para o funcionamento do curso de Medicina em Macaé. Sabemos que o quadro insustentável que vivenciamos hoje não condiz com a grandeza da nossa Universidade. Portanto, apelamos à Vossa Excelência que intervenha junto ao MEC, Ministério da Saúde e todas as outras entidades competentes para que se crie um cenário de novas possibilidades para reversão da crise da Medicina UFRJ-Macaé.

Discentes do curso de Medicina da UFRJ – Campus Macaé

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